autocarro 147


Para mim, o cinema brasileiro tem o grande condão de nos despertar para a realidade e de nos interpelar constantemente, fazendo-nos estremecer do conforto do sofá.
Assisti ontem ao filme "Autocarro 147" que, na senda de filmes como "Carandirú" (filme que nos revolve as entranhas), "Cidade de Deus" ou "Tropa de Elite", mostra a dura realidade da vida nas favelas do Rio de Janeiro, a cidade que só é maravilhosa para alguns.
O filme "Autocarro 147 - A última parada" , baseado numa relativamente recente história verídica, desenha os conturbados percursos de vida dos protagonistas Alessandro e Sandro que a dada altura, se entre-cruzam, com resultados sempre explosivos. Em comum têm negros destinos de miséria, vagueando pelas ruas do Rio de Janeiro, cheirando cola, roubando e traficando droga e, o que é ainda mais confrangedor, partilhando a solidão com outros meninos que aprenderam a ser homens (maus) com bons corações. E também eles se apaixonam, como o prova uma tirada brilhante do filme: "amor que não se paga com dinheiro, se paga com o coração"!
No entanto, a realidade não perdoa, é dura demais e de vítimas, estes meninos/homens cedo passam a algozes, deixando atrás de si um rasto de pânico e de morte pela cidade.
O que sucedeu no tristemente célebre Autocarro 147 mais não foi do que o triste corolário deste mosaico de histórias de vida destroçadas para as quais não há qualquer vislumbre de esperança ou de redenção.
Neste cinema brasileiro da actualidade, comprometido com as complexas (e aparentemente insolúveis) questões sociais, não há espaço para "happy endings". A realidade atinge-nos como um soco. Duro e seco.

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