Morrer na Praia
















Não consigo ficar indiferente quando leio ou vejo notícias relacionadas com o drama de milhares e milhares de clandestinos que, oriundos de uma África destroçada (Costa do Marfim, Guiné, Senegal, Mali, Serra Leoa), procuram um qualquer oásis europeu.
O pesqueiro “Awaid 2” provinha do Senegal e tinha como destino as Canárias. Adivinha-se um barco triste, decrépito, de madeiras ruidosas, à beira da ruptura. A bordo, 58 emigrantes clandestinos de diferentes origens, mas com um denominador comum: uma África esventrada pelo mesmo Ocidente onde eles procuram – tão só - uma vida decente.Vinham da Serra Leoa, do Senegal, do Mali, da Costa do Marfim, da Guiné-Bissau, da Guiné-Conacri.
Em Cabo Verde, no porto da cidade da Praia, o “Awaid 2” foi interceptado e os seus tripulantes aí permaneceram uma semana, sob um sol tórrido e impiedoso, assistidos apenas pela Cruz Vermelha e por outra associação humanitária local que lhes facultavam uma refeição quente por dia e roupas. Amontoados, desesperados, vislumbrando um horizonte de vazio que não oferece quaisquer caminhos ou saídas. À mercê da incógnita, de um futuro que nem se vislumbra plausível.
Basta somente determo-nos nas fotografias de tais tragédias que se repetem e se sucedem todos os dias, batalhões de clandestinos que preferem arriscar-se a ter de viver em países dilacerados pela fome, pela guerra, pela miséria, pela total e absoluta carência. Basta olharmos fixamente para estes rostos macerados. As palavras ficam aquém do impacto que eles provocam em nós. Não é traduzível por palavras.
É urgente que o Ocidente aja em prol de África, palco de tragédias diárias e sangrentas, no sentido de lhe proporcionar os meios de sobrevivência, apontando-lhe os caminhos possíveis da prosperidade e do bem-estar, do respeito pelos Direitos Humanos. Não é legítimo fazer-se de conta e virar as costas às incontáveis vítimas que sentem na pele esse mesmo sol tórrido da indiferença e da absoluta negligência.
Por mais penosos que sejam os nossos fardos quotidianos, jamais saberemos qual a sensação de se estar na iminência de morrer na praia…

Comentários

Anónimo disse…
Sejamos realistas: o Ocidente não quer nem pode ajudar. As leis básicas da economia são explícitas no que toca a esse ponto: para que alguns sejam ricos, outros necessitam obrigatoriamente de ser pobres.
Além disso, o continente africano teve o azar de nascer com grandes potencialidades e recursos naturais. Parece, enfim, uma carcaça nutritiva que desfila mesmo à frente dos olhos dos abutres e de uma serie de pequenas formigas nas quais, todos nós, acabamos por estar incluidos. Já bem basta o crescimento da China e a irrequietude dos países da América do Sul. Infelizmente, no Mundo que se fizemos questão de construir alguém tem de ficar com a factura.
Al Cardoso disse…
Ja alguem me disse que o destino da Africa e ser colonizada, depois de o ter sido pelos Arabes e Europeus, os novos colonizadores sao os Asiaticos = China e India, principalmente. Que triste sina de um continente, em que a riqueza nao serve o seu povo.

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