TLEBS

Antes de mais, a descodificação da sigla de toda a discórdia: TLEBS significa Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário.
Esta medida de implementação de uma nova terminologia está a levantar acesa polémica e discussão nos meios académicos, uma vez que tem por objectivo fazer disseminar, nos manuais de aprendizagem de Português, uma linguagem de tal forma complexa que irá, certamente, ter como resultado o reforçar da aversão à língua portuguesa por parte dos alunos.

São sobejamente conhecidas as imensas e profundas dificuldades que os alunos sentem em relação ao Português, o que se deve a um sem número de factores que vão desde o fraco estímulo para a leitura, tarefa que compete, em primeira instância aos pais e educadores, até à, por vezes, deficiente formação académica dos professores de Português que não incutem nos seus alunos a paixão pelo nosso belo idioma. Patriotismos à parte, a “ Pátria é (mesmo) a minha língua”, como dizia Pessoa.

A TLEBS, que já saiu em Diário da República, introduz categorias de classificação gramatical que, a meu ver, são herdeiras daquela linguagem burocrática e cinzenta que se espalhou um pouco por todos os campos da Administração Central.
Parece que há um certo prazer (sádico, diria) em tornar a língua portuguesa o mais rebuscada possível, como se isso fosse sinónimo de um elevado grau de saber erudito. Antes de se escrever um ofício, ou até mesmo um simples e-mail (mais propenso a um contacto informal), há que empregar as palavras mais “pesadas” para o nosso destinatário nos respeitar, nem que para isso se perca num labirinto infindável de frases e de vírgulas. De facto, é um jogo e todos nós, mais tarde ou mais cedo, entramos nele, o que não quer dizer que não possamos encará-lo com a necessária dose de ironia.
Voltando à polémica TLEBS, ficam aqui alguns exemplos que considero particularmente criticáveis e que irão, seguramente, causar grandes dores de cabeça, tanto a professores, que terão de se inteirar destas alterações de terminologia, como a alunos e, obviamente, a pais que não saberão o que responder às dúvidas dos filhos:

- Sufixo de adjectivalização;
- Sufixo de nominalização;
- Sufixo de verbalização;
- Adjectivo relacional;
- Adjectivo de possibilidade;
- Verbo causativo;
- Verbo incoativo;
- Frase não finita infinita;
- Frase não finita gerundiva;
- Frase não finita participal;
- Sujeito nulo subentendido;
- Sujeito nulo indeterminado;
- Sujeito nulo expletivo;
- Modificador do nome restritivo;
- Modificador adjectival;
- Não contáveis/massivos;
- Não contáveis/não massivos;
- Protótipo textual descritivo;
- Protótipo textual argumentativo;
- Protótipo textual expositivo-explicativo;
- Protótipo textual injuntivo-instrucional;
- Protótipo textual dialogal-conversacional;


Apesar de ser, sem dúvida, necessário o conhecimento das categorias gramaticais e da sua classificação, esta TLEBS vem apenas distanciar os alunos da língua portuguesa,.
Enfim, mais poesia e menos cinzentismo!

Deixo ainda a referência a um texto muito interessante de Vasco Graça Moura, publicado no DN, sobre a TLEBS .

Comentários

Vica disse…
Como se o Português já não fosse uma língua rebuscada e difícil... eita... vá entender. Por aqui ainda não tiveram idéia parecida, mas logo devem vir com algo assim.

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