Do teatro para a vida

No sábado, assisti à apresentação pública de um workshop de “Teatro do Oprimido” que decorreu no IPJ de Viseu, sob a orientação de José Soeiro (Teatro Rivoli). Esta corrente de teatro nasceu no Brasil pela mão de Augusto Boal, tendo emergido originariamente no seio das comunidades bolivianas. O teatro do oprimido, como o próprio nome indica, é direccionado para as camadas mais desfavorecidas e centra-se nos temas mais pungentes da sociedade, numa tentativa de transformar comportamentos e mentalidades por meio do teatro e da encenação de situações-limite que, em teoria, deveriam levar o cidadão comum à acção.
Neste caso concreto, havia 4 personagens em palco, dois casais de gerações distintas, todavia que partilhavam modos de vida extremamente semelhantes. As mulheres, mãe e filha, eram vítimas de opressão e de violência doméstica, num dilacerante mimetismo de destinos que conduzia ao mesmo beco sem saída. Os homens, sempre autoritários e brutais, sempre implacáveis e opacos em termos de partilha de afectos.
É certo que se retratava um quadro extremo de violência que, no entanto, se faz sentir em milhares de lares portugueses, essa absoluta negação da máxima “país de brandos costumes”. Esse cancro silencioso e letal que está tão entranhado no quotidiano das vítimas que se multiplicam a cada instante.
Num segundo momento, a peça era representada ao sabor do gosto do público que ocupava o palco e que, com um bater de palmas, tinha o poder de mudar os fados dos personagens, qual “deus ex machina” que detinha a chave do mais inesperado volte-face e que podia interagir com os personagens em palco. É curioso verificar que, até mesmo no domínio da ficção, a mudança era lenta e os personagens avessos a esta. Qualquer desenlace parecia improvável, tão arreigados eram os comportamentos, as atitudes, as mentalidades.
Porém, a peça acabou por ser coroada com um “happy end” que, por mais convencional que pareça, se assume como o único desfecho lógico num contexto desprovido de qualquer lógica, envolto na mais pura brutalidade.
Das palavras à acção, do teatro para a vida. O teatro do oprimido prova que isso é mais do que uma mera probabilidade.

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