Uma viagem no tempo

Este ano, a viagem a Berlim teve um sabor a nostalgia e a viagem no tempo. Logo no segundo dia, caiu um nevão absolutamente mágico que me fez percorrer os labirintos da memória e recuar aos tempos em que não se pensava no amanhã e em que se construíam imponentes (ou periclitantes, é indiferente) bonecos de neve. Nos saudosos tempos em que nevava e que esse mero acontecimento era, por si só, motivo de esfusiante celebração. É impressionante constatar que todos os adultos, por mais maduros, por mais experientes, por mais marcados pelas vivências e pela bagagem de experiências, se transformam em crianças, dominadas pela euforia de um (aparentemente) simples fenómeno atmosférico. A neve imprime uma beleza indizível que se espraia pelos cantos e recantos mais remotos. É magia a cair dos céus. Pura poesia de gelo feita de nostalgia e de saudade.

Outra viagem no tempo, desta feita a um tempo que não vivi, mas que me suscita muita curiosidade foi a ida ao Museu da DDR (RDA – República Democrática Alemã): um museu tremendamente fascinante que reconstitui o quotidiano na antiga Alemanha Socialista. No Museu da DDR, é possível “guiar” (ainda que sem sair do sítio) uma Trabi (vulgo “Trabant” que “significa companheiro”) e que constitui o automóvel ícone destes tempos de domínio socialista; desbravar uma casa típica e uniformizada; sentarmo-nos tranquilamente na sala de estar (ou também num ponto de escuta que perscrutava todas as conversas nesse assustador Estado orwelliano em que há sempre um "big brother" a monitorizar todos os pensamentos e movimentos dos cidadãos); ler as revistas de moda da época; vaguear pela cozinha e ver todos os produtos, os electrodomésticos, os utensílios que se usavam então, num trabalho de minúcia e de detalhe que percorre todo o museu em si. É quase um voyeurismo histórico e o que se torna ainda mais fascinante é verificar que não se passou propriamente uma eternidade desde os tempos da RDA/DDR e que esse mundo (e ainda mais surpreendentemente, esse quotidiano) já é alvo de uma espécie de “fossilização” e de registo arqueológico.

Para quem viu o excelente filme “Adeus Lenine” em que o protagonista tenta reconstruir o mundo sob a égide do comunismo para uma mãe recém desperta de um coma prolongado (nesse período caiu o Muro de Berlim e o leste foi-se ocidentalizando em toda a linha), a visita a este Museu é obrigatória. Seria interessante criar-se um projecto idêntico em Portugal para que nascessem museus interactivos, dinâmicos que desafiassem o público e que, acima de tudo, despertassem o gosto pela História e a consciência cívica dos cidadãos. Há que lutar pela preservação da memória colectiva, o nosso maior património. Porque é fácil resvalar para o esquecimento...

Comentários

Rita Nery disse…
Olá miga!Gostava muito de ter ido contigo, assim escondida na tua mala por exemplo:)As fotos estão muito bonitas, e não me querendo repetir a neve transforma tudo o que é menos bonito, em belo, digno de uma foto e da euforia dos adultos que comemoram a neve como se fossem crianças. Fica a certeza que existe em nós uma criança, mesmo que se teime em esconder na maioria das vezes!
Nem vou comentar o museu, acho que não me ficava por tocar nas roupas, vesti-as mesmo e assumia o personagem:)

Muitos Beijinhos e que mais viagens venham:)

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