Aurea Mediocritas


Há qualquer coisa de mágico no entardecer de Verão, nesse manto que se abate, lânguido e lento, sobre nós e que nos devolve uma sensação de alegria primordial, de uma doce inocência e, sobretudo, de quase imortalidade.
O olhar vai perseguindo o cair do sol que lentamente sai de cena, pé ante pé, e ao mesmo tempo que assistimos a esse verdadeiro milagre, sentimos o cheiro típico do Verão que, por vezes, nos arrebata e nos transporta a tempos longínquos, em que ficávamos a brincar na rua até tarde e em que acreditávamos ser brindados pelo sopro da eternidade.
Hoje vêem-se cada vez menos crianças nas ruas. É esta geração playstation que jamais sentirá os cheiros e os sabores estivais e que permanece enclausurada numa muralha virtual, em mundos assépticos e paralelos.
O eminente poeta grego Horácio, numa das suas odes, evocou a "aurea mediocritas", que consiste na capacidade de nos comprazermos nas pequenas coisas do dia-a-dia e de nos deixarmos invadir pela poesia e não pela ganância desmesurada ou pelo apego aos bens materiais.
Não seria muito diferente do humor de Seinfeld que se baseava, precisamente, naqueles episódios risíveis e universais do quotidiano, fazendo deles a sua matéria-prima cómica. O humor é uma das principais fontes de felicidade, senão mesmo a maior...
São estes fugazes instantes quotidianos que preenchem a noção de felicidade. Não são as casas, nem os carros topos de gama, nem os telemóveis de última geração que só lhes falta aspirar a sala empoeirada.
É esta etérea contemplação de um entardecer de Verão, cuja poesia se derrama sobre a nossa pele e que, pasme-se!, é grátis!

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