Pelo direito à diferença


O realizador americano Gus Van Sant já nos habituara a filmes de grande fôlego, como por exemplo "Elephant", "Paranoid Park" ou "Good Will Hunting", pontuados por preocupações manifestamente sociais e políticas que revolvem as entranhas e que, na senda do melhor cinema de autor, levam o público a colocar uma série de questões pertinentes.
O filme "Milk" não é, pois, excepção, neste contexto da obra do realizador. Construído como um documentário, e, consequentemente, como uma peça importante para o entendimento da história da luta pelos direitos civis por parte da comunidade homossexual norte-americana, este filme acompanha o percurso de Harvey Milk, o primeiro homossexual a ser eleito para um cargo público nos E.U.A.
A luta incansável de Milk desenrolou-se, em primeiro lugar, num bairro de S. Francisco para logo se alastrar a todo o país que começou a despertar para a urgência de um tratamento igualitário em relação à comunidade homossexual, fortemente ostracizada por uma sociedade puritana e conservadora.
É interessante verificar que, em 1978 (o ano em que eu nasci), a luta acérrima pelos direitos civis por parte das minorias já fervilhava nos Estados Unidos, questão que só agora se começa a discutir com consistência em Portugal!...
Harvey Milk é o símbolo da determinação férrea de um cidadão que se via, acima de tudo, como um activista (e não como um político), reclamando somente o direito a um tratamento igualitário, no plano dos direitos civis. O seu destino foi trágico (como, infelizmente, o de todos os homens à frente do seu tempo), mas o seu contributo tremendamente importante lançou as bases para a construção de uma sociedade mais aberta, mais plural que abraça todos os seus cidadãos, por igual, independentemente das tendências sexuais de cada um.
Uma nota para a representação soberba de Sean Penn que encontrou o registo certo para esta interpretação, sem nunca incorrer nas imagens esteriotipadas que se associam à comunidade gay. O Óscar para Melhor Actor foi, sem sombra de dúvida, merecido. Sean Penn não pára de supreender, demonstrando uma flexibilidade tremenda ao encarnar personagens completamente díspares, como, por exemplo, nos filmes "I am Sam", "Mystic River" ou "Dead Men Walking". Dele só se espera a perfeição, plenamente conseguida neste marcante Harvey Milk.

Comentários

casa da poesia disse…
amo el color de jade
y el enervante perfume de las flores...!?...salut!
Jaymz disse…
Apesar de ser um bom filme, este na minha opinião vale acima de tudo pela genial performance de Sean Penn. Um desempenho único e sem dúvida sem se deixar levar pelas "imagens esteriotipadas que se associam à comunidade gay."
Se houve óscares justos, este foi um deles.

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