Hino à (doce) nostalgia


A rubrica "Caderneta de Cromos" da autoria de Nuno Markl que passa de segunda a sexta, às 08:45 e 09:45, na Rádio Comercial, além de ser uma ideia absolutamente iluminada, é responsável pelo bom humor diário de milhares de Portugueses que, de manhã a caminho do trabalho, nos seus carros ou a pé com os seus auscultadores, se podem deliciar com descrições deliciosas e hilariantes de tantos e tantos cromos que completam as cadernetas de memórias de todos aqueles que viveram a infância/adolescência nos saudosos anos 80/90.

Os "cromos" passaram do domínio do éter para livro, o qual reúne 100 cromos memoráveis desta rubrica que nos transporta directamente para tempos dourados em que podíamos ser livres, construir laços indestrutíveis, viver experiências marcantes, tão longe dos incontáveis fantasmas que nos assolam na idade adulta, como se não houvesse sequer amanhã e cada dia fosse (mais) uma aventura entusiasmante. Estas crónicas são descrições minuciosas, muito cómicas e, sobretudo, têm o condão de deter um pendor quase "universal", porque, independentemente do lugar onde tenhamos vivido estes anos dourados, as experiências são tão deliciosamente idênticas que chega a ser comovente!...

Há episódios, memórias, momentos e experiências que, pura e simplesmente, já não voltam a acontecer. Ontem lembrei-me do barulho das máquinas fotográficas antigas a rebobinar o rolo (bem sei que há pessoas que ainda se munem destas máquinas, mas na voracidade dos tempos actuais, as máquinas digitais acabam por ser a solução mais recorrente) ou da imagem do leiteiro que trazia o leite a casa naqueles pacotes que tinham quase vida própria e se escapavam dos dedos. Ou a imagem da fita das cassetes presa na aparelhagem, num autêntico novelo desesperante. Ou o prazer que era comer um Calipo quando os pais nos suplicavam para comer gelados à base de leite!...

Há nesta geração dos "trintões" e "quarentões" uma doce nostalgia que percorre a memória comum, uma memória aveludada feita de algodão doce e de todas aquelas coisas boas que comíamos, à revelia dos adultos, e que se hoje ainda existem, simplesmente já não têm o mesmo sabor! E esse saudosismo saudável estende-se a tudo, sobretudo à música e àqueles "hits" que ainda nos fazem as pernas bambas só de relembrar os seus acordes e letras marcantes (alguns até nos fazem corar de vergonha!).

Estou a ler este livro com sofreguidão, enquanto colo os inevitáveis "cromos" com a também eterna Cola Cisne. Tenho pena desta geração que tem como ícone a Lady Gaga que enverga repulsivos vestidos de carne, sem se perceber sequer a mensagem que, supostamente, pretendia veicular. Continuo a preferir o Boy George!

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