Os Portugueses não fazem revoluções, fazem anedotas.







Como explicar a alguém de outra nacionalidade esta estranha característica típica dos Portugueses de converter as piores agruras em material cómico? Para cada nova medida de austeridade, renova-se o anedotário nacional e surgem imagens hilariantes que nos despertam gargalhadas, com um certo sentimento de culpa à mistura. Enquanto Gregos e Espanhóis exercem o seu protesto visceral nas ruas, não raras vezes com violência, sinal de um desespero imenso e muito compreensível, os Portugueses trauteiam canções revolucionárias, fazem da cantiga uma arma, ou lançam facturas em nome do Primeiro-Ministro ou transformam os governantes em protagonistas de paródias que se disseminam à velocidade da luz. É recorrente dizer-se que os Portugueses vivem em crise desde 1143, daí a crise ser parte integrante do nosso quotidiano colectivo. Creio que desde Portugal é Portugal que a ironia, a anedota e a paródia fizeram parte da nossa informação genética colectiva. É óbvio que tudo isto é preferível a acções de protesto violentas, causando mais problemas do que apontando soluções para os graves problemas que assolam o país hoje em dia. Em qualquer tragédia há sempre um "comic relief", um alívio cómico, e creio que é mesmo essa a nossa estratégia colectiva. De alívio cómico em alívio cómico, vai-se atenuando o peso de uma realidade asfixiante, de um cinto que teima em apertar até aos limites do humanamente aceitável. Cantando e rindo, assim é a essência do Português, esse contestatário improvável.  

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