Nous sommes Charlie


O início de um novo ano encerra em si um inevitável desejo de mudança, de renovação, uma crença na evolução, uma esperança num mundo melhor (por mais lugar-comum que pareça).

No entanto, este ano de 2015 amanheceu negro, demasiadamente negro. O assassínio a sangue frio, nuns estonteantes 5 minutos de barbárie, dos jornalistas do jornal satírico francês Charlie Hebdo pôs o mundo em suspenso, a chorar a morte de 12 pessoas, entre jornalistas e polícias, naquele que foi um bárbaro atentado a França, à democracia e aos valores basilares do mundo civilizado.

Antes de mais, uma ressalva: é importante não tomar o todo pela parte, considerando que estes grupos minoritários, mas não menos perigosos, são o espelho da religião muçulmana. É essa a ideia que eles tentam passar. Porém, todas as generalizações são nefastas e viciam um debate sério sobre este fenómeno tão complexo, sem solução à vista. A comunidade muçulmana, como afirmou ontem Sheikh David Munir, só pode sentir uma enorme vergonha, pelo facto de verdadeiros lunáticos perpetrarem tais actos bárbaros em nome da fé e da religião muçulmanas.

O mais assustador é constatar que esta ameaça não tem rosto, está latente e perversamente enraizada nas sociedades actuais. É uma ameaça que se pulverizou e que pode detonar a qualquer instante, em qualquer lugar, onde haja democracia e liberdade de expressão e de pensamento.

A questão da liberdade de expressão é, sem dúvida, crucial e não será a violência a calar a voz do pensamento. Mas nada me parece mais revoltante do que o total desrespeito pelo valor basilar da vida humana que estes lunáticos corporizam. Não é a fé que professam. Antes a violência pela violência.

Mas o mundo civilizado que acredita e que defende acerrimamente a liberdade de pensamento e de expressão e a democracia não se deverá deixar intimidar, erguendo-se contra a barbárie, o fundamentalismo e a intolerância. Hoje e sempre, nous sommes Charlie.

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